Bem no inicio do
século XVIII, a descoberta de ouro na região nas Minas Gerais, redefiniu o
destino do Brasil colônia. As marcas deste tempo, estão espalhadas pelos
estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e interligadas pela Estrada
Real que tem diferentes caminhos.
A cerca de 300 anos os bandeirantes, fizeram no interior do
Brasil, as primeiras descobertas de metais preciosos. As picas abertas por índios e alargadas pelos próprios bandeirantes, se
tornaram naquele momento, caminhos para a fortuna. Por estes caminhos
passaram milhares de pessoas das mais diversas origens, que criaram uma nova
cultura. Paulistas vinham para as Minas de Ouro, navios de Portugal iam cheios de ouro e vinham
cheios de produtos europeus, o Brasil conhecia sua primeira corrente imigratória.
No inicio da descoberta de Ouro nas minas, o volume de ouro
retirado de lá embarcado para Portugal, que passou por Paraty por trinta anos,
que serviu como porto de escoamento de ouro. Era um volume tão grande, que fez
Portugal, virar um império. O ouro abundante, era encontrado por toda parte,
nos leitos, margens de rios, nas encostas. Com tanto ouro o Brasil viu-se pela
primeira vez organizando sua economia.
O desafio da Coroa
Portuguesa, era controlar a circulação de um metal, que mesmo em condições
minúsculas valia uma verdadeira fortuna. Para evitar o contrabando, Portugal
definiu uma estrada oficial obrigatória para os mineradores.
O ouro era levado por caminhos difíceis e tortuosos, pelas
montanhas, os chamados Caminhos Reais ou Estradas Reais. Eram as estradas por
onde tinha-se a autorização para fazer o escoamento de qualquer tipo de
produto. E qualquer caminho ou via, que
não fosse a via oficial da Estrada Real, era considerada descaminho, era
considerado caminho de contrabando.
A Estrada Real tem duas variantes principais para o mar, o Caminho Velho, liga Paraty no litoral
do O Caminho Novo, surgiu
na terceira década do século XVIII e ligava a Vila Rica a cidade do Rio de
Janeiro, objetivando facilitar o transporte da região aurífera. A viagem que
durava dois meses ficou reduzida a 25 dias, ou 15 dias (a cavalo). Ao longo do
percurso de 1400 km (Caminho Velho e Caminho Novo), a Estrada real reúne marcos
naturais que se incorporam ao patrimônio geológico e histórico do Brasil. Mais
tarde com a descoberta de pedras preciosas ao norte de Vila Rica, criou-se o Caminho dos Diamantes, que vai até a
cidade mineira de Diamantina.
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Mapa da Estrada Real |
Aberto ainda no
século XVII, o Caminho Velho, cruzava montanhas íngremes, impondo dificuldades
a quem quisesse se aventurar pelo ouro. Para fazer o Caminho Velho os
Portugueses aproveitaram as trilhas aberta pelos índios Guaianás, que vinham de
cima das montanhas, pescar no litoral. O Caminho Velho é a estrada que liga o
porto de Paraty as Minas Gerais, passando por cima da serra da Mantiqueira.
Ponto de partida do Caminho Velho, Paraty, foi fundada no
século XVII, antes da descoberta do ouro, o seu porto naturalmente protegido
pela baia da Ilha Grande, a Coroa Portuguesa, encontrou um lugar ideal para
levar sua precioso mercadoria até a Europa. Paraty foi o caminho do ouro, foi
por lá que se chegavam as Minas Gerais, de 1703 à 1727, era por lá que vinham o
ouro das gerais.
Paraty era a porta do
chamado Eldourado. De Paraty saiam toneladas de ouro e entravam milhares de
escravos, para trabalhar nas minas. O ouro e os escravos eram as formas de
comercio mais lucrativas de época.
Quando nosso ouro era escoado em grandes quantidades para
Portugal, quase nada era fabricado aqui no Brasil, mercadorias hoje comuns como
vidros, tecidos e louças, desembarcavam no porto de Paraty, vindas da Europa e
subiam ao lombo de burros, por caminhos de pedra, atravessando montanhas até as
Minas Gerais.
Com o dinheiro que circulou, Paraty se tornou uma cidade de
gente poderosa e culturalmente exigente. Hoje a herança deste tempo, representa
a maior riqueza de Paraty. Seguindo pelo caminho velho, encontramos uma
paisagem ao mesmo tempo bela e aterrorizante para os exploradores do século
XVIII, a Serra da Mantiqueira. Hoje as áreas mais íngremes desta serra, estão
protegidas pelo Parque Nacional do Itatiaia. Após cruzar os desafios da Serra
da Mantiqueira, chega-se ao atual Estado das Minas Gerais. Aqui num terreno
mais plano e mais próximo das Minas de ouro, a Coroa Portuguesa, fundou cidades
para afirmar seu poder sobre a Colônia.
A Coroa Portuguesa, se firmou na região, com as expulsões
dos primeiros bandeirantes na Guerra dos Emboabas, com a oficialização da presença portuguesa, no ano
de 1711, no mesmo ano eles criam as Vilas de Sabará, de Vila Rica, essas vilas
são frutos da organização social, econômica e urbana da Portuguesa.
Preocupada em controlar o fluxo de garimpeiros, aventureis e
comerciantes, a Coroa Portuguesa, passou a criar uma política de fixação, no
inicio do século XVIII, foram erguidas as Vilas de Mariana, Vila Rica de Ouro
Preto, Vila Real de Sabará e São João Del Rey.
Batizada em homenagem ao rei de Portugal da época, Dom João
V, São João Del Rey, foi uma das
mais importantes vilas do ciclo do Ouro. O luxo daqueles tempos, continua
presente no Casario, no Museu Regional e principalmente nas Igrejas da cidade.
A Igreja de São Francisco de Assis, traz a assinatura de Antonio Francisco
Lisboa, o mestre Aleijadinho na portada principal e a considerada uma das principais
marcas do Rococó brasileiro.
A alguns quilômetros de São João Del Rey, que hoje podem ser
percorridos em uma Maria Fumaça, está a cidade Tiradentes. Nos tempos do ouro, ela se chamava, São José Del Rey,
com a proclamação da Republica, a cidade ganhou o nome do “mártir” da inconfidência.
Ao contrario de São João Del Rey, onde os cenários do século XVIII, convivem a
aceleração urbana dos dias de hoje, em Tiradentes, tudo parece estar parado no
tempo. A conservação do Casario, e das ruas, gera renda, o principal motor da
economia de Tiradentes é o turismo histórico. Andar por estas calçadas, é se
transportar para o cotidiano de uma rica colônia Portuguesa no trópicos.
A ideia dos
povoadores, era fazer que as Vilas coloniais, fossem extensões das Vilas
Portuguesa, então a semelhança do calendário religioso, na vida social, na
arquitetura residencial e religiosa, nos hábitos, era muito próxima do que era
também em Portugal, mas características regionais são muito evidentes. Nos
temos essas inspirações de vida europeia, mas na cultura, no modo de ser e
agir, na culinária e nas tradições, é bem perceptível a presença da identidade
local, onde tem a cultura africana, indígena e europeia mesclam-se e formam a
cultura mineira.
Entre os maiores expoentes da Arte Barroca e Rococó mineira,
está outra cidade encravada no Caminho Velho da Estrada Real: Congonhas. Se encontram algumas das
mais importantes obras do Mestre Aleijadinho, com destaque para as esculturas
do doze profetas. Esculpidas pelo Mestre em pedra sabão, no Santuário de Bom
Jesus de Matosinhos.
Apesar da inspiração Européia, quando está arte chega na mão
de artistas como Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, eles dão um toque mineira,
desde o traço, a fisionomia, os lábios grossos, o nariz, a presença da raça
negra e do indígena, se faz muito presente nas obras.
O ponto extremo do Caminho Velho, a Vila Rica de Ouro Preto, é também a maior atração
dessa região. O marco de origem da Estrada Real é Ouro Preto, que era o grande
ponto de exploração aurífera, onde se concentrava o ouro. Os portugueses ali
estavam, afinal tinham encontrado o Eldourado, todas aquelas histórias e lendas
das grandes montanhas de ouro se materializaram no momento em que eles
encontram o ouro nas serras de Ouro Preto.
A quantidade de ouro,
que os Portugueses tiraram em apenas em um século, foi muito maior que toda a quantidade
de ouro que os espanhóis tiraram em quatro séculos em varias regiões do
planeta.
São vários os tempos da Estrada Real, desde a sua criação no
inicio do século XVIII, passando pelos século XIX e XX, até sua revitalização no
inicio do século XXI, com o turismo e o resgate cultural.
Quando acabou o metal precioso, acabou também a agitação nas
Minas Gerais, as cidades do ouro, se tornaram pacatas lembranças dos tempos que
fervilhavam de gentes e riquezas.
Minas ficou pra trás esquecida, dedicando-se primeiro ao
gado depois ao café, vai se tornar uma das sociedades mais estáticas do Brasil
e uma sociedade tão estática que preservou suas as cidades congeladas no tempo
e no espaço, cidades mortas, felizmente mortas, por isso chegaram quase
intactas ao século XXI.
Em 2001, formou-se
uma parceria entre o Governo do Estado e o Instituto Estrada Real, criado pela
Federação das Indústrias de Minas Gerais. O resultado dessa união foi o Projeto
Estrada Real, um conjunto de ações para estimular o turismo e a preservação do patrimônio
em torno dos antigos do ouro.
A Estrada Real ficou praticamente esquecida, durante muito
tempo, há 15 anos atrás, ouvia-se falar da Estrada Real, mas ninguém sabia
quais os perímetros que contemplavam a famosa Estrada Real. Hoje quando circula-se
pela Estrada Real, é bem perceptível e nítido a presença de um trabalho, com criação
de infraestrutura, informações turísticas, criação de totens, que facilitam o
reconhecimento e a identificação do perímetro que contempla a Estrada Real.
Hoje praticamente
todas as cidades históricas na rota da Estrada Real, tem infra-estrutura para
receber viajantes. A revitalização da Estrada Real, garante renda as cidades, preserva
o patrimônio cultural e promove o conhecimento, sobre um período fundamental da
nossa história.
Quem anda por esses caminhos, faz contato com uma cultura
cuidadosamente preservada, ao longo dos quase 1.500 quilômetros da Estrada
Real.
E em 1727, vem a famosa
ordem do Rei Dom João V – “fechem esse caminho, passem a usar a variante do Proença.”
Que passa pela região de Juiz de Fora e vem pelo fundo da baia de Guanabara.
Obedecendo ao traçado no sentido Norte e Sul, o Caminho Novo ia da Vila Rica de
Ouro Preto ao Rio de Janeiro, evitando os relevos mais perigosos da Serra da
Mantiqueira. O transito mais fácil do Caminho Novo, ajudou a abastecer as
cidades da região das minas que não paravam de crescer, nos arredores de Ouro
Preto, centro da mineração, o solo não é fértil, ele não permite o plantio de
lavouras. Cabia a Estrada Real facilitar o abastecimento de alimentos, grandes
fazendas se tornaram centros produtores e novas cidades surgiam.
Essa civilização colonial
criada em torno do ouro, está sendo redescoberta, ao conhecer a Estrada Real,
percebemos que as Minas Gerais do tempo do ouro, vai muito mais além dos monumentos
barrocos.
Veja também
A Guerra dos Emboabas
Conheça um pouco da história do mestre Aleijadinho
Documentário: Aleijadinho: a arte de um gênio
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