terça-feira, 17 de novembro de 2015

Estrada Real



Bem no inicio do século XVIII, a descoberta de ouro na região nas Minas Gerais, redefiniu o destino do Brasil colônia. As marcas deste tempo, estão espalhadas pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e interligadas pela Estrada Real que tem diferentes caminhos.

A cerca de 300 anos os bandeirantes, fizeram no interior do Brasil, as primeiras descobertas de metais preciosos. As picas abertas por índios e alargadas pelos próprios bandeirantes, se tornaram naquele momento, caminhos para a fortuna. Por estes caminhos passaram milhares de pessoas das mais diversas origens, que criaram uma nova cultura. Paulistas vinham para as Minas de Ouro, navios de Portugal iam cheios de ouro e vinham cheios de produtos europeus, o Brasil conhecia sua primeira corrente imigratória.

No inicio da descoberta de Ouro nas minas, o volume de ouro retirado de lá embarcado para Portugal, que passou por Paraty por trinta anos, que serviu como porto de escoamento de ouro. Era um volume tão grande, que fez Portugal, virar um império. O ouro abundante, era encontrado por toda parte, nos leitos, margens de rios, nas encostas. Com tanto ouro o Brasil viu-se pela primeira vez organizando sua economia.

O desafio da Coroa Portuguesa, era controlar a circulação de um metal, que mesmo em condições minúsculas valia uma verdadeira fortuna. Para evitar o contrabando, Portugal definiu uma estrada oficial obrigatória para os mineradores.


O ouro era levado por caminhos difíceis e tortuosos, pelas montanhas, os chamados Caminhos Reais ou Estradas Reais. Eram as estradas por onde tinha-se a autorização para fazer o escoamento de qualquer tipo de produto. E qualquer caminho ou via, que não fosse a via oficial da Estrada Real, era considerada descaminho, era considerado caminho de contrabando.

A Estrada Real tem duas variantes principais para o mar, o Caminho Velho, liga Paraty no litoral do O Caminho Novo, surgiu na terceira década do século XVIII e ligava a Vila Rica a cidade do Rio de Janeiro, objetivando facilitar o transporte da região aurífera. A viagem que durava dois meses ficou reduzida a 25 dias, ou 15 dias (a cavalo). Ao longo do percurso de 1400 km (Caminho Velho e Caminho Novo), a Estrada real reúne marcos naturais que se incorporam ao patrimônio geológico e histórico do Brasil. Mais tarde com a descoberta de pedras preciosas ao norte de Vila Rica, criou-se o Caminho dos Diamantes, que vai até a cidade mineira de Diamantina.
Mapa da Estrada Real
Rio de Janeiro à Vila Rica de Ouro Preto, centro da mineração e capital das Minas Gerais. 

Aberto ainda no século XVII, o Caminho Velho, cruzava montanhas íngremes, impondo dificuldades a quem quisesse se aventurar pelo ouro. Para fazer o Caminho Velho os Portugueses aproveitaram as trilhas aberta pelos índios Guaianás, que vinham de cima das montanhas, pescar no litoral. O Caminho Velho é a estrada que liga o porto de Paraty as Minas Gerais, passando por cima da serra da Mantiqueira.

Ponto de partida do Caminho Velho, Paraty, foi fundada no século XVII, antes da descoberta do ouro, o seu porto naturalmente protegido pela baia da Ilha Grande, a Coroa Portuguesa, encontrou um lugar ideal para levar sua precioso mercadoria até a Europa. Paraty foi o caminho do ouro, foi por lá que se chegavam as Minas Gerais, de 1703 à 1727, era por lá que vinham o ouro das gerais.

Paraty era a porta do chamado Eldourado. De Paraty saiam toneladas de ouro e entravam milhares de escravos, para trabalhar nas minas. O ouro e os escravos eram as formas de comercio mais lucrativas de época.

Quando nosso ouro era escoado em grandes quantidades para Portugal, quase nada era fabricado aqui no Brasil, mercadorias hoje comuns como vidros, tecidos e louças, desembarcavam no porto de Paraty, vindas da Europa e subiam ao lombo de burros, por caminhos de pedra, atravessando montanhas até as Minas Gerais.

Com o dinheiro que circulou, Paraty se tornou uma cidade de gente poderosa e culturalmente exigente. Hoje a herança deste tempo, representa a maior riqueza de Paraty. Seguindo pelo caminho velho, encontramos uma paisagem ao mesmo tempo bela e aterrorizante para os exploradores do século XVIII, a Serra da Mantiqueira. Hoje as áreas mais íngremes desta serra, estão protegidas pelo Parque Nacional do Itatiaia. Após cruzar os desafios da Serra da Mantiqueira, chega-se ao atual Estado das Minas Gerais. Aqui num terreno mais plano e mais próximo das Minas de ouro, a Coroa Portuguesa, fundou cidades para afirmar seu poder sobre a Colônia.

A Coroa Portuguesa, se firmou na região, com as expulsões dos primeiros bandeirantes na Guerra dos Emboabas, com a oficialização da presença portuguesa, no ano de 1711, no mesmo ano eles criam as Vilas de Sabará, de Vila Rica, essas vilas são frutos da organização social, econômica e urbana da Portuguesa.

Preocupada em controlar o fluxo de garimpeiros, aventureis e comerciantes, a Coroa Portuguesa, passou a criar uma política de fixação, no inicio do século XVIII, foram erguidas as Vilas de Mariana, Vila Rica de Ouro Preto, Vila Real de Sabará e São João Del Rey.

Batizada em homenagem ao rei de Portugal da época, Dom João V, São João Del Rey, foi uma das mais importantes vilas do ciclo do Ouro. O luxo daqueles tempos, continua presente no Casario, no Museu Regional e principalmente nas Igrejas da cidade. A Igreja de São Francisco de Assis, traz a assinatura de Antonio Francisco Lisboa, o mestre Aleijadinho na portada principal e a considerada uma das principais marcas do Rococó brasileiro.

A alguns quilômetros de São João Del Rey, que hoje podem ser percorridos em uma Maria Fumaça, está a cidade Tiradentes. Nos tempos do ouro, ela se chamava, São José Del Rey, com a proclamação da Republica, a cidade ganhou o nome do “mártir” da inconfidência. Ao contrario de São João Del Rey, onde os cenários do século XVIII, convivem a aceleração urbana dos dias de hoje, em Tiradentes, tudo parece estar parado no tempo. A conservação do Casario, e das ruas, gera renda, o principal motor da economia de Tiradentes é o turismo histórico. Andar por estas calçadas, é se transportar para o cotidiano de uma rica colônia Portuguesa no trópicos.

A ideia dos povoadores, era fazer que as Vilas coloniais, fossem extensões das Vilas Portuguesa, então a semelhança do calendário religioso, na vida social, na arquitetura residencial e religiosa, nos hábitos, era muito próxima do que era também em Portugal, mas características regionais são muito evidentes. Nos temos essas inspirações de vida europeia, mas na cultura, no modo de ser e agir, na culinária e nas tradições, é bem perceptível a presença da identidade local, onde tem a cultura africana, indígena e europeia mesclam-se e formam a cultura mineira.

Entre os maiores expoentes da Arte Barroca e Rococó mineira, está outra cidade encravada no Caminho Velho da Estrada Real: Congonhas. Se encontram algumas das mais importantes obras do Mestre Aleijadinho, com destaque para as esculturas do doze profetas. Esculpidas pelo Mestre em pedra sabão, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos.

Apesar da inspiração Européia, quando está arte chega na mão de artistas como Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, eles dão um toque mineira, desde o traço, a fisionomia, os lábios grossos, o nariz, a presença da raça negra e do indígena, se faz muito presente nas obras.

O ponto extremo do Caminho Velho, a Vila Rica de Ouro Preto, é também a maior atração dessa região. O marco de origem da Estrada Real é Ouro Preto, que era o grande ponto de exploração aurífera, onde se concentrava o ouro. Os portugueses ali estavam, afinal tinham encontrado o Eldourado, todas aquelas histórias e lendas das grandes montanhas de ouro se materializaram no momento em que eles encontram o ouro nas serras de Ouro Preto.

A quantidade de ouro, que os Portugueses tiraram em apenas em um século, foi muito maior que toda a quantidade de ouro que os espanhóis tiraram em quatro séculos em varias regiões do planeta.

São vários os tempos da Estrada Real, desde a sua criação no inicio do século XVIII, passando pelos século XIX e XX, até sua revitalização no inicio do século XXI, com o turismo e o resgate cultural.

Quando acabou o metal precioso, acabou também a agitação nas Minas Gerais, as cidades do ouro, se tornaram pacatas lembranças dos tempos que fervilhavam de gentes e riquezas.

Minas ficou pra trás esquecida, dedicando-se primeiro ao gado depois ao café, vai se tornar uma das sociedades mais estáticas do Brasil e uma sociedade tão estática que preservou suas as cidades congeladas no tempo e no espaço, cidades mortas, felizmente mortas, por isso chegaram quase intactas ao século XXI.

Em 2001, formou-se uma parceria entre o Governo do Estado e o Instituto Estrada Real, criado pela Federação das Indústrias de Minas Gerais. O resultado dessa união foi o Projeto Estrada Real, um conjunto de ações para estimular o turismo e a preservação do patrimônio em torno dos antigos do ouro.

A Estrada Real ficou praticamente esquecida, durante muito tempo, há 15 anos atrás, ouvia-se falar da Estrada Real, mas ninguém sabia quais os perímetros que contemplavam a famosa Estrada Real. Hoje quando circula-se pela Estrada Real, é bem perceptível e nítido a presença de um trabalho, com criação de infraestrutura, informações turísticas, criação de totens, que facilitam o reconhecimento e a identificação do perímetro que contempla a Estrada Real.

Hoje praticamente todas as cidades históricas na rota da Estrada Real, tem infra-estrutura para receber viajantes. A revitalização da Estrada Real, garante renda as cidades, preserva o patrimônio cultural e promove o conhecimento, sobre um período fundamental da nossa história.

Quem anda por esses caminhos, faz contato com uma cultura cuidadosamente preservada, ao longo dos quase 1.500 quilômetros da Estrada Real.

E em 1727, vem a famosa ordem do Rei Dom João V – “fechem esse caminho, passem a usar a variante do Proença.” Que passa pela região de Juiz de Fora e vem pelo fundo da baia de Guanabara. Obedecendo ao traçado no sentido Norte e Sul, o Caminho Novo ia da Vila Rica de Ouro Preto ao Rio de Janeiro, evitando os relevos mais perigosos da Serra da Mantiqueira. O transito mais fácil do Caminho Novo, ajudou a abastecer as cidades da região das minas que não paravam de crescer, nos arredores de Ouro Preto, centro da mineração, o solo não é fértil, ele não permite o plantio de lavouras. Cabia a Estrada Real facilitar o abastecimento de alimentos, grandes fazendas se tornaram centros produtores e novas cidades surgiam.

Essa civilização colonial criada em torno do ouro, está sendo redescoberta, ao conhecer a Estrada Real, percebemos que as Minas Gerais do tempo do ouro, vai muito mais além dos monumentos barrocos. 

Veja também
  A Guerra dos Emboabas
Conheça um pouco da história do mestre Aleijadinho
Documentário: Aleijadinho: a arte de um gênio

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