Em 1832, circum-navegando a América do Sul, rumo à famosa ilha de
Galápagos, onde encontrou a surpreendente fauna que o inspiraria a
elaborar a revolucionária Teoria da Evolução das Espécies, o naturalista
inglês Charles Darwin passou pela Bahia e pelo Rio de Janeiro, onde
escreveu:
... finalmente, deixamos as praias do Brasil. Agradeço a Deus e espero nunca visitar outra vez um país escravocrata... Perto do Rio de Janeiro, morei em frente a uma velha senhora que guardava tarraxas para esmagar os dedos de suas escravas. Fiquei em uma casa onde um jovem mulato era diariamente e a cada hora maltratado, espancado e atormentado, de um modo suficiente para aniquilar o espírito do animal mais miserável. Vi um garotinho de seis ou sete anos de idade ser atingido três vezes na cabeça por um chicote de açoitar cavalos (antes que eu pudesse interferir) simplesmente por ter me alcançado um copo de água que não estava bem limpo. Vi seu pai tremer apenas com um relance do olhar de seu mestre...
... finalmente, deixamos as praias do Brasil. Agradeço a Deus e espero nunca visitar outra vez um país escravocrata... Perto do Rio de Janeiro, morei em frente a uma velha senhora que guardava tarraxas para esmagar os dedos de suas escravas. Fiquei em uma casa onde um jovem mulato era diariamente e a cada hora maltratado, espancado e atormentado, de um modo suficiente para aniquilar o espírito do animal mais miserável. Vi um garotinho de seis ou sete anos de idade ser atingido três vezes na cabeça por um chicote de açoitar cavalos (antes que eu pudesse interferir) simplesmente por ter me alcançado um copo de água que não estava bem limpo. Vi seu pai tremer apenas com um relance do olhar de seu mestre...
Nas Minas, a escravidão não se distanciou dos moldes cariocas ou
baianos. Os primeiros escravos
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Execução da pena do Fugitivo e Escravos ao Tronco: Debret |
negros chegaram às Minas, logo após a
descoberta das primeiras jazidas auríferas, em 1695. Para cá foram
trazidos escravos capturados em várias nações africanas, tais como
Sudão, Guiné, Angola, Moçambique e Congo. Para o trabalho na mineração
havia a preferência por um tipo específico de escravo, pelo qual se
pagava caro: o negro-mina. Baixo e forte, o negro-mina vinha da região
do Congo. Forte para a brutalidade do trabalho e baixo para melhor se
mover nos ambientes apertados dos talhos e das galerias das minas, o
negro-mina recebia tal denominação por conhecer técnicas rudimentares de
mineração, as quais aprendia em sua própria cultura. A viagem da África
ao Rio de Janeiro durava geralmente cerca de 2 longos meses. Nos
escuros porões dos navios, os escravos eram amontoados como gado e
batizados na fé católica. Os homens recebiam o nome de Chico e as
mulheres de Chica ou Maria. A travessia do Atlântico era uma verdadeira
provação. Tormentas e naufrágios eram constantes. Devido aos maus
tratos, às péssimas condições do transporte e à falta de asseio, comida e
água potável, calcula-se que morriam de cinco a vinte e cinco porcento
dos negros, durante a viagem.
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Feitor Corrigindo Escravo: Debret |
Os que chegavam vivos e em condições de serem expostos à venda, nos
mercados de escravos no Rio de Janeiro, ainda tinham de sobreviver à
longa caminhada até as regiões mineradoras. Escoltados por tropeiros
armados, o negros eram acorrentados uns aos outros e, descalços, eram
conduzidos pela Estrada Real até as principais vilas da capitania como
São João Del Rei, Vila Rica (Ouro Preto) e o Distrito Diamantino do
Tejuco (Diamantina). Em 1876, quando o ouro de aluvião começa a
apresentar sinais de exaustão, a Capitania já contava com o incrível
número de 174.135 cativos, numa população de total de 362.847
habitantes. Para a maioria dos negros escravos, a situação de vida na
sociedade mineradora não foi melhor do que a do nordeste açucareiro. A
brutalidade da exploração do escravo, certamente, foi mais grave nos
trabalhos de extração aurífera nas lavagens das várzeas e
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Mercado de Escravos no Rio de Janeiro:Debret |
ribeiros e nas
escavações das galerias subterrâneas. O negro era obrigado a trabalhar o
dia inteiro em ambientes úmidos, frios e, muitas vezes,
claustrofóbicos. Devido à desumana condição do serviço, os escravos
morriam com cinco ou sete anos de serviço na mineração. Eram comuns as
mortes por soterramento, afogamento, asfixia e por doenças como
silicose, dermatites agudas, pneumonia e tuberculose. Mas nem tudo foi
barbárie no mundo do escravo mineiro. As Minas foram palco de várias
histórias de perseverança, obstinação e liberdade, como a de Chico Rei
em Vila Rica (vide postagem Chico Rei, o Rei do Congo no Brasil) e de
Chica da Silva no Distrito Diamantino. A grande quantidade de ouro
encontrado nas Minas e o fácil acesso ao metal precioso permitiam ao
escravo comprar sua liberdade. Era comum na região mineradora permitir
que o escravo garimpasse ouro por conta própria, aos domingos e nos dias
santos. Assim, era possível ao negro acumular ouro suficiente para
comprar sua alforria ou até mesmo comprar outro escravo que era
oferecido ao seu senhor em troca de sua liberdade. Uma vez libertos, o
escravos alforriados se organizavam em irmandades religiosas, nas quais
se ajudavam mutuamente e pagavam pela alforria de outros escravos. As
irmandades negras mais comuns eram as da padroeira Nossa Senhora do
Rosário. Praticamente, cada vilarejo mineiro possuia um Capela do
Rosário. Mas, existiam ainda as irmandades de Santa Efigênia, de Nossa
Senhora das Mercês, de São Gonçalo e de São Francisco dos Cordões da
Penitência, nas quais se admitiam negros forros. Os escravos libertos
encontravam nas irmandades religiosas um espaço para o exercício da
sociabilidade e também para a prática sua cultura, sobretudo, a
religiosa.Foram nestes locais que a religiosidade da África se fundiu
com a do colonizador portugues, dando origem ao sincretismo religioso
como o Congado, o Reizado e etc.
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Escravos Cangueiros e Diferentes Nações de Escravos: Debret |
Os escravos foram responsáveis pela produção de toda a riqueza da
Capitania das Minas de Ouro, até a abolição da escravidão, em 1888.
Extraíram todo ouro, o diamante e as gemas preciosas. Construíram as
ruas, o casario, as igrejas e as cidades. Exerceram os mais diversos
ofícios necessários à dinâmica das vilas mineradoras. Foram deles, e das
nações indígenas que herdamos os elementos étnico-culturais, que,
somados à matriz portuguesa, resultaram na formação da magnífica e
incomparável Civilização Mineira.
fonte: http://monlewood.blogspot.com.br/2010/07/historia-das-minas-de-ouro-e-diamante.html
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